Macroalgas como "florestas marinhas"
Algas são organismos fotossintetizantes aquáticos que não constituem uma categoria taxonômica definida, apresentando organismos com diferentes organizações celulares e grande variedade de morfologias e formas de crescimento, o que ainda gera intensas discussões sobre sua classificação. De forma geral, são consideradas como microalgas, quando são observadas apenas com auxílio de microscópio, ou macroalgas, quando são possíveis de serem observadas a olho nu.
Estas, juntamente com as angiospermas marinhas, são produtores primários essenciais para manutenção do ecossistema marinho, sendo que as microalgas que compõem o plâncton são apontadas como responsáveis por 40 a 50% da produção primária global; enquanto as macroalgas destacam-se por sua grande importância econômica.
As macroalgas estão presentes em nosso cotidiano de forma despercebida compondo cremes hidratantes, xampus, plastificantes, isolantes, lubrificantes, cápsulas secas e cada vez mais são estudadas pela indústria farmacêutica por apresentarem compostos com função anticoagulante e antioxidante. Nos países orientais, diferentes macroalgas são usadas na alimentação, como a alga nori (gênero Porphyra), a qual tem apresentado consumo progressivo pela população brasileira.
Durante um passeio na praia nos deparamos com algumas macroalgas levadas até a areia pela ação das ondas e subida e descida das marés, ou durante uma visita e mergulho próximo a um costão rochoso, o que sempre nos chama atenção pela sua variedade de cores e formas.
No ambiente marinho, são encontrados, principalmente, três grupos de macroalgas: (1) Clorophyta, algas verdes, como o gênero Ulva; (2) Ochrophyta, algas pardas, como Sargassum e (3) Rhodophyta, algas vermelhas, como o grande complexo de algas coralinas. Estima-se a existência de 1.200 espécies de algas verdes, 1.750 espécies de algas pardas e 7.000 espécies de algas vermelhas. No Brasil, os principais registros datam a partir de 1950, sendo o primeiro trabalho publicado em 1951 por Aylthon Brandão Joly, ficologista brasileiro com grande contribuição no conhecimento das algas marinhas da costa atlântica latino-americana como um todo.
As macroalgas crescem fixas ao substrato, como em costões rochosos e raízes de manguezais, formando extensas “florestas marinhas” que protegem a zona costeira contra a ação das ondas e são foco de estudos por atuarem como abrigo para uma grande variedade de invertebrados marinhos, que as utilizam como proteção contra predadores, sítio reprodutivo e também recurso alimentar. Toda essa fauna residente das macroalgas possui relações fortes com suas características estruturais e é sensível a variações ambientais. Esses animais se tornam ainda mais expostos ao considerarmos a grande redução da extensão dos bancos de macroalgas nas últimas décadas, com o registro do desaparecimento de aproximadamente 29% dos habitats de algas marinhas desde o século XIX, totalizando cerca de 110km² perdidos ao ano desde 1980, ocasionado, principalmente, pela ação antrópica. Desta forma, cresce a importância de se conhecer a fauna residente e se avaliar o efeito de proteção sobre o sistema macroalgas–invertebrados em áreas que as atividades antrópicas são limitadas, questões que são investigadas nos nossos projetos de pesquisa.